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19 anos do massacre de Eldorado dos Carajás

Edmilson Rodrigues deputado federal foto Gustavo Lima Camara dos Deputados (49)

 

Senhor Presidente,

Senhoras Deputadas,

Senhores Deputados:

Há 19 anos, em 17 de abril de 1996, o Pará foi palco do tristemente famoso massacre de Eldorado do Carajás. Naquele fatídico dia, centenas de trabalhadores rurais ligados ao MST iniciaram uma marcha de protesto pelo atraso no processo de reforma agrária e em favor da desapropriação da fazenda Macaxeira. Para chamar a atenção das autoridades, os trabalhadores ocuparam um trecho da rodovia PA-150, bem próximo ao município de Eldorado do Carajás, conhecido como a Curva do S. Ao entardecer, ocorreu o sangrento massacre dos trabalhadores rurais, deixando imediatamente 19 vítimas fatais e dezenas de feridos.

Durante muitos anos foi repetida a versão de que teria havido um confronto entre trabalhadores e policiais militares. No entanto, os fatos, comprovam que as tropas da PM foram enviadas ao local e receberam a ordem direta do então governador, Almir Gabriel, para “desobstruir a rodovia a qualquer custo”.

Dos 155 PMs envolvidos no crime, apenas os dois comandantes imediatos – o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira – foram condenados a 228 e a 158 anos de prisão, e depois de anos em liberdade por força de habeas corpus, ambos foram presos em 2012. A cadeia de responsabilidade que esteve na raiz desta tragédia jamais foi investigada, o que, sem dúvida, reforçou o clima de impunidade e ensejou que novas matanças fossem realizadas no sempre conflagrado campo paraense.

O relatório anual da Comissão Pastoral da Terra revela a consequência desta impunidade. O ano de 2014 registrou um aumento no número de assassinatos em conflitos no campo, 36, dois a mais que no ano anterior, quando foi registrado o assassinato de 34 pessoas. E é na região Norte onde ocorreu o maior número de assassinatos: foram 14 ocorrências, 9 no Pará e 5 em Rondônia. Diferentemente dos anos anteriores, em que se destacavam os assassinados de indígenas e quilombolas, o alvo principal em 2014 foram sem-terra (11); assentados (8); posseiros (7). Mas foi o número de tentativas de assassinato que apresentou o crescimento maior, de 273%. Passaram de 15 em 2013, para 56 em 2014.

Eldorado do Carajás ficará para sempre como um caso de execução extrajudicial, um crime praticado por agentes do Estado. Recordar este fato deve servir para homenagear a memória das vítimas, mas também para fazer uma conclamação a que jamais tenhamos que passar por situação semelhante.

Diante dessa triste realidade, no momento em que se celebra mais um Dia Internacional da Luta Camponesa, rendo minha homenagem à memória das vítimas e expresso minha irrestrita solidariedade aos sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás, e reafirmo o meu apoio à causa dos trabalhadores que neste momento estão lutando pela verdadeira Reforma Agrária e pelo fim da impunidade dos crimes no campo neste país.

Edmilson Rodrigues

Deputado Federal PSOL/PA