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A Morte como Farsa e o Socialismo Renovado do Século XXI

Por Ednaldo Britto*

“Terminamos o século com o socialismo transformado em uma antiga relíquia de um passado distante”. (Paulo Ghiraldelli, O que é Filosofia Contemporânea)

A morte do Socialismo, tão declarado pelos arrivistas quanto o fim da História, teima em não se confirmar. A ausência de um corpo para ser velado e sepultado e os indícios da presença de atividades somáticas pró-socialismo em diversas regiões do planeta não deixam dúvidas: “a teoria de Marx recobra todo o seu sentido no contexto da globalização de hoje”.

Assim como a queda das torres gêmeas anulou de forma trágica a falsa tese do fim da história formulada pelo americano Francis Fukuyama, a tão propalada idéia do desaparecimento do Socialismo, diante das atuais condições da crise capitalista e da globalização, não passa de uma grande farsa criada para encobrir os indícios de que o verdadeiro “Espírito do Mundo” permanece ativo. Como previsto por Marx, a disseminação do capitalismo deve tornar-se o meio ideal para a implantação de um sistema mundial mais humano e mais justo.

A conexão planetária criada pela rede mundial de computadores e a formação dos blocos econômicos regionais, mecanismos ainda atrelados aos interesses capitalistas, são elementos estratégicos para a difusão e consolidação do Socialismo. “A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano” (Milton Santos, Por uma outra globalização, 2010).

A instabilidade crônica da economia dos EUA e a crise estrutural que ameaça dissolver a União Européia são provas contundentes de que o capitalismo é um sistema senil e incapaz de se manter coeso. Sua máquina corrompida em alto grau não consegue operar sem o emprego contínuo de uma beligerância desumana imposta sobre aqueles que se negam ao alinhamento definitivo. No sentido inverso ao que apregoam diariamente as mídias corporativas, seguem, em ritmo gradativo, a reestruturação política e econômica da América Latina, a descolonização das nações africanas, o constante aprimoramento do sistema cubano e a ascensão dos BRICS; fatos que corroboram a clarividente afirmação de Milton Santos: “Esse mundo novo anunciado não será uma construção de cima para baixo, como a que estamos hoje assistindo e deplorando, mas uma edificação cuja trajetória vai se dar de baixo para cima”.

Portanto, a morte do Socialismo não passa de um argumento vazio sem nenhuma relação direta com a realidade, mera especulação de uma “Filosofia” acrítica concebida para denegrir as iniciativas dos povos autodeterminados que decidiram lutar para extinguir as misérias e desigualdades sociais de seus territórios; não obstante todas as ameaças diárias oriundas dos governos imperialistas que controlam o capitalismo global. Sendo assim, para nos mantermos coesos à luta das nações que se opõem a barbárie do capital, nós brasileiros precisamos forjar uma nova estrutura social capaz de extirpar definitivamente de nosso meio a “barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante as elites procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social.” Entre nós, mestiços dos trópicos, o Socialismo renovado do século XXI estará liberto de todos os resquícios de frieza e autoritarismo e conterá em sua essência a permanente “esperança na construção de um novo universalismo, bom para todos os povos e pessoas”.

* Ednaldo Britto é professor com pós-graduação em Estudos Culturais.