Arquiteto e defensor do patrimônio histórico e cultural, o deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL) defende a realização de uma audiência pública de caráter oficial para discutir a construção de um shopping no bairro da Cidade Velha. Ele participou de audiência nesta quarta-feira, 23, na sede do Ministério Público Federal (MPF), em Belém, e defendeu que o órgão realize audiência, com a participação de todos os órgãos públicos envolvidos com o assunto, além de representantes da sociedade civil para discutir a implantação do empreendimento na área do centro histórico de Belém. “É preciso que a construção desse empreendimento seja amplamente discutida e que os pareceres dos órgãos competentes não tenham caráter apenas técnico, mas que considere os impactos de vizinhança, as determinações do Estatuto das Cidades, além dos impactos que a obra causará para o conjunto arquitetônico de nosso centro histórico”, defendeu o deputado, referindo-se à obra que está prevista para ser construída no prédio da antiga loja Bechara Mattar, na rua do Aveiro.
Ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues lembrou que existe uma luta, que envolve vários segmentos da sociedade paraense, para reivindicar para Belém o título de patrimônio histórico da humanidade e que obras como essa podem vir a comprometer a conquista do mesmo. “É preciso que os órgãos competentes analisem todos os comprometimentos e impactos deste empreendimento, que irá alterar, sobremaneira, as linhas do conjunto arquitetônico de nosso centro histórico”, disse o deputado. “Em arquitetura, o objetivo em casos de recomposição arquitetônica de prédio em áreas de centro histórico é garantir a harmonia das linhas arquitetônicas, e não competir com elas, ou mesmo querer se impor às mesmas, como é o que está sendo planejado pelo novo empreendimento”, acrescentou, destacando a importância do MPF na garantia da preservação do patrimônio histórico e cultural de Belém e do Pará, que já foram tão destruídos.
Sem citar nomes, Edmilson ressaltou também que o arquiteto que assina o projeto do novo empreendimento é o responsável pela destruição de um muro centenário que compunha o conjunto arquitetônico do Forte do Presépio, e também pela alteração das linhas arquitetônicas do Largo do Redondo. “E esse arquiteto foi contratado, privadamente, para fazer o projeto dessa obra. Mas é importante destacar que ele ocupa um alto cargo na administração pública estadual. Por essa razão é preciso que a gente fique alerta e tome todas as medidas cabíveis para que nosso patrimônio não seja mais uma vez ameaçado por profissionais e empreendimentos que não respeitam o seu valor e a sua história”, frisou Edmilson.
A presidente da associação representante dos moradores da Cidade Velha, Dulce Roque, também participou da audiência e apresentou vários documentos que a entidade já encaminhou aos órgãos competentes pedindo informações sobre a obra. Ela declarou estar estarrecida com as informações que recebeu de órgãos municipais como a Fundação do Município de Belém (Fumbel) e Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) e do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), alegando que não há nenhuma oposição. Todos os pareceres dos órgãos foram favoráveis à realização da obra.
O procurador da república Carlos Potyguar também participou da audiência convocada pela associação presidida por Dulce Roque e informou que o MPF-PA já instaurou um inquérito para apurar o caso. Ele destacou que o órgão foi provocado pelas redes sociais, onde as manifestações contrárias à obra estão tomando grandes proporções. Porém, informou que o inquérito ainda está no início e que o órgão ainda não tem sequer o projeto do empreendimento.
Fotos: Maurício Leal
