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Há brasa sobre a cinza

É normal que pessoas progressistas e ativistas sociais tenham ficado baqueados com a votação folgada do texto principal da reforma da previdência, mas é necessário serenidade e esperança neste momento.

Vejamos:
As forças conservadoras venceram as eleições, colocaram na presidência um amigo de miliciano, reacionário e todos os adjetivos impublicáveis. Todos os dias presenciamos algum ataque ao meio ambiente, aos direitos humanos, cortes nas universidades e entrega do nosso patrimônio.

Neste cenário, em que pese as trapalhadas, denúncias envolvendo os filhos do presidente e seus ministros (Turismo, por exemplo), queda de popularidade e migração de parte da imprensa para uma postura mais crítica, há uma enorme proteção dos interesses do mercado financeiro. E a reforma da previdência é a prioridade deste setor.

A direita, representada no chamado Centrão, mesmo não contemplada adequadamente nos cargos públicos federais, tem um instinto de classe bastante apurado. Esses senhores tem um olho no peixe (cobram liberação de verbas para seus redutos e alocação de apadrinhados nos órgãos públicos) e outro no gato (são altamente sensíveis as reivindicações do andar de cima, especialmente de quem pode viabilizar suas campanhas eleitorais).

Uma vitória num tema essencial para a elite depende muito das ruas, da conquista de uma maioria contrária ao que os senhores estão propondo e de forte mobilização militante. Neste semestre tivemos algumas notícias boas, principalmente as manifestações dos dias 15 e 30 de maio. E, mesmo a greve geral, mostrou algum potencial.

Não foram suficientes para barrar a reforma na primeira votação na Câmara, mas mostraram que há crescente questionamento a medidas concretas do governo.

Pensei numa analogia para essa situação. Digamos que nossa fogueira apagou, ficaram cinzas e uns pedaços queimados de madeira. Mas por baixo das cinzas ainda tem brasa.

Da mesma forma que uma fogueira podemos ter eventos fora da nossa governabilidade que acendam algumas chamas, mas isso não é suficiente para fazer a fogueira voltar a queimar em intensidade suficiente.

É necessário soprar as cinzas (neste caso, os erros que a esquerda cometeu e a burocratização que paralisa nossos movimentos) e ter uma estratégia potente para reacender as brasas e transformá-las em fogo vibrante.

Essa é nossa tarefa, reacender a fogueira da mudança social. Não é trabalho rápido, não há fórmula mágica, não se faz isso sozinhos ou disputando protagonismo para ver quem a acende primeiro. É tarefa coletiva, cotidiana.

Acredito na potência das brasas para superar a tristeza do momento.

Luiz Araújo
Professor da Faculdade de Educação da UnB