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Homenagem a Carlos Marighella

carlos marighela

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhoras Deputadas,

Há exatos 45 anos, na noite de 4 de novembro de 1969, cercado por mais de 150 policiais, tombava assassinado o líder revolucionário Carlos Marighella, o inimigo número 1 da ditadura militar, o poeta, o tribuno genial, o guerrilheiro da causa mais sublime que a humanidade foi capaz de criar: a libertação integral de homens e mulheres do jugo de toda as formas de opressão.

Os carrascos de Marighella – pois hoje se sabe de forma comprovada que sua morte não decorreu de tiroteiro, mas de fuzilamento a sangue frio – estão cobertos pela infâmia e pela vilania. Esses assassinos, responsáveis por quase meio milhar de mortos e desaparecidos entre 1964 e 1985, ainda terão sua atuação criminosa sancionada por uma justiça que não pode continuar de olhos vendados às atrocidades cometidas sob o amparo de uma ditadura que, desgraçadamente, nos dias de hoje, passou a ser idolatrada por um perigoso movimento de cunho fascistóide que há poucos dias ensaiou colocar seu rosto monstruoso à luz do dia.

Porém, hoje é dia de falar de Carlos Marighella, esse negro filho de imigrante italiano e de baiana descendente de escravos, que desde muito cedo soube ser a síntese do melhor, do mais puro e do mais revolucionário sentimento que embalou – e felizmente ainda embala – gerações de lutadores e lutadoras pela plena felicidade humana. Do jovem Marighella que escrevia em versos suas provas na Escola Politécnica da Bahia ao experiente e respeitado líder político que resistiu às indizíveis torturas do Estado Novo sem jamais entregar seus companheiros de luta, passando pelo tribuno extraordinário que integrou, por breves dois anos, a combativa bancada do Partido Comunista na Assembleia Constituinte de 1946, temos um homem que soube estar à altura dos desafios de seu tempo. Nas palavras do genial Carlos Drummond de Andrade, Marighella não foi “poeta de um mundo caduco”, pois seus “companheiros estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”.

São essas mesmas esperanças que me fazem registrar desta tribuna o tributo a este grande cidadão do mundo, que há muito já deveria ter seu nome repetido e ensinado em cada escola, em cada rua, em cada monumento que renda homenagem aos que antes de nós abriram o caminho para um país efetivamente justo e soberano.

Que a juventude brasileira tenha exata noção do papel e do legado de Carlos Marighella. Esse é o melhor remédio para neutralizar o movimento incipiente – porém extremamente nocivo – que pretende capturar segmentos de nosso povo para o triste papel de adoradores do sanguinário regime de 64.

Finalizo lembrando as palavras de outro grande brasileiro, Jorge Amado, que à altura do 25º aniversário da morte de Marighella, discursou:

“Dentro dele, a ternura e a ira. Conhecia de perto a miséria e a opressão, mas também conhecia a capacidade de resistência do povo. De quando em vez releio seus poemas, sabiam que ele era poeta? Ternura e ira em seus poemas simples, claros, brasileiros. Sendo homem de ação mais que um teórico, a poesia marcou cada instante de sua vida. Tudo nele era sincero, digno e puro. (…) Morreu em uma emboscada. Deixou mulher, irmãos e filho, deixou inúmeros amigos, um povo a quem amou desesperadamente e a todos legou uma lição de invencível juventude, de inabalável confiança na vida e no humanismo. Retiro da Maldição e do silêncio e aqui escrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella”.

Viva a memória imortal de Carlos Marighella!

Viva a luta do povo brasileiro!

Palácio Cabanagem, 04 de novembro de 2014.

Deputado Edmilson Rodrigues
Líder do PSOL