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Homenagem à memória de Carlos Marighella pelo 44º ano de seu assassinato

Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Senhoras Deputadas,

Há quarenta e quatro anos o Brasil perdia um dos seus mais ilustres filhos: Carlos Marighella. No dia 04 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, centro de São Paulo, em uma emboscada covarde, dezenas de policiais do extinto Departamento de Ordem Política e Social ceifavam a vida de um homem que soube como ninguém honrar sua origem e sua classe, fazendo de sua existência um exemplo de entrega à causa da felicidade humana.

Carlos Marighella nasceu em 5 de dezembro de 1911, na Baixa do Sapateiro, cidade de Salvador. Foi o mais velho dos oito filhos do casal Augusto e Rita. O pai, um imigrante italiano. A mãe, baiana, filha de escravos africanos.
Em termo políticos, sua maior influência nos primeiros anos de vida veio do próprio pai, Augusto, que sem ser militante, era simpático aos ideais socialistas e anarquistas. Carlos reconheceria, num livro chamado Por que Resisti à Prisão, a importância das conversas com o pai: “Desde criança habituei-me a meditar sobre um problema a respeito do qual meu pai falava quase diariamente: ‘Porque o pobre trabalha toda a vida e nunca tem nada?’”

A partir de seus 20 anos e ao longe de mais de três décadas, sua vida se confundiu com a do Partido Comunista Brasileiro. Marighella foi um quadro de seu partido e referência para os lutadores do mundo. Considerava que o marxismo-leninismo desvendava os mecanismos de exploração dos pobres e mostrava os meios para superá-los.
Durante a ditadura do Estado Novo, nas ocasiões em que foi preso, ainda que submetido às piores sevícias, nada revelou sobre atividades políticas, criando um mito em torno de sua figura, como o militante imune à tortura.
Marighella, nome construído tanto na luta política social, inclusive clandestina, foi um grande tribuno na constituinte de 1946, na histórica eleição de 13 comunistas ao parlamento brasileiro.
Paradoxalmente a postura rígida e altamente disciplinada de quem tinha por tarefa ajudar a transformar o mundo, Marighella surpreendia seus companheiros pela personalidade irreverente e sensibilidade poética, como em seu famoso Rondó da Liberdade:
“É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre…
O amor é que não se detém ante um obstáculo,
e pode mesmo existir até quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.”

Passadas mais de quatro décadas ninguém se lembra dos torturadores e algozes de Marighella. Mas seu nome permanece cada dia mais vivo e vibrante na resistência indígena, negra e popular que anima a luta por um mundo sem amos, sem a mácula da exploração do homem pelo homem e liberto de todas as amarras de todas as formas de opressão.

Em razão do exposto, nos termos regimentais, REQUEIRO que esta casa expresse votos de louvor à memória viva de Carlos Marighella, heroi do povo brasileiro, no transcurso dos 44 anos de seu bárbaro assassinato.

Que da decisão do plenário seja dado imediato conhecimento à família de Carlos Marighella através de sua viúva, Clara Charf.

Palácio Cabanagem, 06 de novembro de 2013.

Deputado Edmilson Rodrigues
Líder PSOL