Senhor Presidente,
Senhoras Deputadas,
Senhores Deputados:
O mundo perdeu no dia de ontem (13) uma de suas mais geniais inteligências: aos 74 anos parou de bater o coração de Eduardo Galeano, escritor uruguaio que fez de sua palavra a arma mais poderosa na luta por afirmar o direito universal à poesia e à plena felicidade humana.
A América, com suas veias permanentemente abertas, foi testemunha de como a arte em seu grau mais elevado pode e deve ser produzida como o pão que se divide e não como mercadoria a serviço do enriquecimento de uma minoria tão próspera quanto insensata. Foi através da voz profética e corajosa de Galeano que gerações e gerações tiveram o direito de desvelar o mundo, nos dias e noites de amor e de guerra. Foi por sua mão generosa que as memórias de fogo vieram à luz, expondo de suas entranhas relatos imortais de resistência e dignidade de nossos povos.
Através da prosa poética desse gênio latino-americano os de baixo tiveram direito a ter sua face finalmente reconhecida. Os humilhados por séculos de dominação colonial saíram da condição de vítimas silenciosas e ganharam as páginas como protagonistas de uma longa e heroica jornada em favor da vida.
A perda prematura de Galeano me faz recordar os versos de Drummond diante da morte de João Guimarães Rosa, em 1967. Disse nosso poeta maior que João era “fabuloso fabulista” e era “tudo tudo escondido, florindo como flor é flor, mesmo não semeada”. Eduardo Galeano, a meu ver, era exatamente dessa mesma estirpe: “mágico sem apetrechos”, homem prodígio que não morre, encanta-se.
Galeano seguirá encantado nos rios, florestas e veias pulsantes de um povo que não deixar de caminhar – palavras andantes nas bocas do tempo – perseguindo a mais bela utopia jamais criada pela humanidade: um mundo finalmente liberto de todas as formas de exploração e de opressão.
Por isso, faço questão de registrar o falecimento de Eduardo Galeano, para que essa Casa renda as homenagens devidas à memória deste cidadão do mundo.
Viva Eduardo Galeano!
Viva a América que caminha!
Edmilson Rodrigues
Deputado Federal PSOL/PA
