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Pesar pelo falecimento de Verônica Tembé

Senhor Presidente,
Senhoras Deputadas,
Senhores Deputados;

No dia 1º deste mês, os indígenas da etnia Tembé-Tenetehara perderam a sua maior liderança: a matriarca Verônica Tembé, de 97 anos, que dedicou toda a sua vida à luta pela união de seu povo e a preservação da cultura indígena. Após um longo período com a saúde debilitada, ela começou a sentir fortes dores no peito e foi levada para atendimento hospitalar em Paragominas, que fica a cerca de 120 quilômetros da Aldeia Tekohaw, onde morava. Como o caso era grave e as condições da saúde naquele município são precárias, Verônica foi encaminhada para Belém, onde foi atendida no hospital Abelardo Santos, em Icoaraci. Mas, acabou não resistindo e morreu.

Verônica teve apenas dois filhos: Sérgio Muxi Tembé e Carlos Sérgio Tembé. Mas com sua sabedoria e liderança é considerada mãe e líder de todo o povo em suas mais de 40 aldeias e mais de quatro mil indígenas da etnia Tembé-Tenetehara. O respeito e reverência do povo às orientações e comandos de Verônica foram manifestados na linda e emocionante homenagem feita no dia do seu velório, no Alto Rio Guamá. Mais de mil pessoas, entre indígenas, servidores da educação e da saúde e moradores de Paragominas compareceram a uma celebração que, pela primeira vez, foi cantada e, pela originalidade e beleza, comoveu a todos os presentes.

Sérgio Tembé, filho de Verônica e líder na aldeia Tekohaw, conta que sua mãe teve uma grande importância no processo de resistência às diversas tentativas de colonização e de destruição da cultura indígena. Sem estudos e sem nunca ter aprendido a escrita do homem branco, Verônica liderou os tembé com sua sabedoria e com o conhecimento tradicional que recebera de seus antepassados. E com muito orgulho de sua origem, nunca permitiu que seu povo fosse subjugado ou tivesse suas tradições atacadas. É, portanto, um exemplo de resistência que deve ser lembrado e reverenciado em nosso Estado do Pará.

De acordo com Sérgio Tembé, no governo de Magalhães Barata, houve uma tentativa de dividir o povo tembé em duas colônias: Guarani e Guamá. Mas Verônica organizou os indígenas e resistiu a essa e outras tentativas, sempre defendendo a preservação da cultura, da língua e da tradição de seu povo. “Houve também algumas tentativas de transferir o nosso povo daquelas terras para o Mato Grosso. Mas ela não aceitou e mobilizou o nosso povo a reagir. E foi, assim, em todas as vezes que fomos atacados porque ela sempre era ouvida e a orientação dela seguida, sem contestação”, disse Sérgio Tembé.

Valdeci Tembé, outra liderança tembé e também sobrinho de Verônica Tembé, destaca que a matriarca foi a responsável pela união e aumento populacional de seu povo. Segundo ele, nas décadas de 60 e 70, os tembé quase foram dizimados, nos inúmeros ataques que sofreram ao longo da história. Naquele período, com medo dos ataques, muitos foram morar e trabalhar na casa de famílias brancas nos diversos municípios da região do Alto Rio Guamá. E foi aí que Verônica iniciou o seu trabalho de procurar o seu povo, conversar e convencer um por um a retornar para as aldeias e ajudar a unir e organizar a resistência indígena.

A luta de Verônica foi vitoriosa e um povo que tinha poucos integrantes, não só resistiu como reconquistou sua auto-estima, sua cultura e sua dignidade. Hoje, os tembés são mais de quatro mil indígenas em nosso Estado e mantêm viva a história e a cultura indígenas.

Diante de tudo isso, REQUEIRO, nos termos regimentais, que esta casa legislativa manifeste seu pesar e renda todas as homenagens a Verônica Tembé pela importância que teve na preservação do povo tembé e de sua cultura e tradições.

Requeiro também que seja dado conhecimento do teor integral desde documento ao povo Tembé-Tenetehara da Aldeia Tekorral, à Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério Público Federal (MPF), à Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA).

Palácio Cabanagem, 18 de dezembro de 2013.

EDMILSON RODRIGUES
Líder do PSOL