Por Luiz Araújo
Ontem à noite foi um dia para se compreender os limites da democracia representativa brasileira. Explico melhor esta afirmação:
1. Na semana passada a Câmara dos Deputados cometeu uma heresia ao destinar 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para a educação. A proposta original do governo destinava apenas os dividendos.
2. O recurso do Fundo Social está acordado com o mercado financeiro para ser uma espécie de colchão protetor de prováveis crises financeiras. Funcionaria como uma poupança para socorrer empresas e bancos nestes momentos angustiantes, no mesmo formato que temos presenciado nos EUA, Grécia, Portugal, etc.
3. A aprovação do texto na Câmara foi no contexto de medo que os parlamentares começaram a ter da crescente onda de protestos. O instinto de sobrevivência levou ao plenário optar por rapidamente aprovar medidas que respondessem aos clamores das ruas.
4. O governo se rearticulou e conseguiu reverter a heresia, mesmo que parcialmente, na noite de ontem no Senado. E a votação foi quase unânime, apenas o senador Randolfe Rodrigues (líder do PSOL) manteve posição crítica sobre a manobra e pediu preferência para o texto aprovado na Câmara. Além da bancada governista (sempre disposta a enxergar virtudes aonde não existe), a oposição conservadora foi da concordância a omissão.
Era impressionante a falta de compreensão dos senadores sobre o que estava sendo votado na noite de ontem.
Hoje, até o final do dia, terei acesso aos números do estrago. O substitutivo é melhor do que o projeto original da Dilma, mas bem inferior ao que havia sido aprovado pela Câmara.
A votação guarda coerência com o primeiro pacto proposto pela presidenta foi manter a mesma política econômica conservadora vigente desde o plano real.
Moral da história: entre o clamor das ruas e o clamor dos mercados, o governo e o parlamento sempre optaram pelo segundo. Parece que a votação da semana passada não passou de um ato falho, algo feito de forma impensada.
Fonte: Blog do Luiz Aráujo