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Edmilson Rodrigues defende eleição de diretores para melhoria da qualidade de ensino

Entrevista publicada originalmente n´O Estado de Tapajós.

Edmilson Rodrigues em debate sobre eleicao direta para diretor de escola

Em visita a Santarém para participar de um encontro com os professores e diretores da rede estadual de ensino que participam da mobilização estadual coordenada pelo Sintepp, para pressionar o governo do Estado a rever a portaria de lotação e avançar na negociação da hora atividade e das aulas suplementares, o deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL) defendeu em entrevista ao jornal que a democratização da escolha de gestores escolares é elemento fundamental para a melhoria da qualidade da educação nas escolas públicas. Edmilson deu exemplos práticos de escolas de Belém que eram depredadas e a partir da escolha de diretores pela comunidade escolar, teve uma mudança de atitude por parte dos alunos e os resultados positivos são visíveis desde as paredes que em vez de pichações abrigam painéis artísticos, até o rendimento dos alunos.

O Estado – Deputado, que exemplos práticos o senhor pode dar da melhoria na qualidade da educação em escolas públicas a partir da escolha de diretores pela comunidade?

Edmilson Rodrigues – Tem dois exemplos práticos no Pará. Um quando eu fui deputado na década de 80, fui autor do projeto que criou os conselhos escolares equitativos: dois alunos, dois professores, dois técnicos com pedagogia, dois do apoio administrativo, dois pais de alunos, de modo que tínhamos todos os segmentos da comunidade escolar. Naquela ocasião não conseguimos força para aprovar a eleição direta, mas ao regulamentar o conselho permitia que ele indicasse uma lista tríplice e pudesse fazer eleição direta para indicar a lista. Onde nós elegemos, realmente houve uma contenção enorme da violência, e em geral, a qualidade da educação aumentou. Se for em Belém, na grade avenida Almirante Barroso, uma escola que vivia depredada, quando o professor Paulo foi eleito, ele chamou a garotada que era tida como gangue, como marginais e disse que queria a ajuda deles. A partir dali, as explosões de bacias sanitárias e pias, as pichações nas paredes, todas deram lugar a painéis artísticos, a atividades culturais, a grupos de dança, de capoeira, de modo que a escola virou uma referência para Belém e o Estado todo. E quando eu fui prefeito, eu tive o privilégio de implantar o processo de eleição direta em todas as escolas municipais. E aí eu posso falar que foi uma das melhores coisas que eu fiz, porque qualquer problema de corrupção, de desvio de merenda escolar, ou em termos da qualidade de ensino, a falta de um professor irresponsável porque em todo lugar tem gente irresponsável, tudo passou a ser controlado pela comunidade que foi quem elegeu o diretor.

O Estado – O fato de não serem indicados, dá mais liberdade ao gestor escolar para imprimir as mudanças que se fazem necessárias nas escolas?

Edmilson Rodrigues – Certamente. Pois o diretor eleito não tem compromisso com o prefeito, com vereador, com o governador. Em alguns casos, eu elegi diretores que eram oposição ao meu governo. Pela esquerda, o PSTU e naquela altura pelo DEM, que era o PFL. E algumas pessoas disseram: Tu vais nomear alguém que é contra, que é de direita. E eu dizia, vou, porque ele foi eleito pela comunidade. E eu digo com toda a tranquilidade em todos os casos, foi positivo. Porque quem apoiava o governo não tinha que dar satisfação porque não devia obediência. Apoiava porque era simpático como qualquer cidadão pode ser. Mas quem não concordava tinha a responsabilidade de administrar bem a escola, independentemente de gostar do prefeito ou não, de concordar ou não politicamente. E por não concordar, ajuda a gente também a corrigir os erros. Então, a eleição direta em Belém durante oito anos, gerou muitos avanços. Não é à toa que eu ganhei prêmio de Prefeito Criança por três vezes. Num país de quase seis mil municípios, eu fui o único prefeito que recebeu esse prêmio três vezes do Unicef. Então foi uma decisão corajosa de acreditar na participação popular, que a democratização da escola é importante. A escola não pode ser um curral eleitoral. Não pode um político querer nomear diretor e fazer daquele diretor um cabo eleitoral, porque educação não rima com autoritarismo e nem com esse tipo de politicagem. A escola pública não pode servir como um espaço para manipulação política. Ela é o espaço da liberdade e nesse sentido é positivo.

O Estado – Nos últimos anos, os gestores escolares têm sido indicados, mas com a regulamentação da democratização do processo de eleição direta isso deve acabar em breve?

Edmilson Rodrigues – Infelizmente, depois de tantos anos de avanço houve um retrocesso com mudanças na lei e nós perdemos o direito de eleger no estado, nas escolas estaduais. Agora, fruto da greve do Sintepp, da qual Santarém participou de forma ativa no ano passado, um dos pontos negociados foi que o governo mandasse à Assembleia um Projeto de ei e mandou, conforme o acordo. Aprovamos mês passado,já vai ser publicado e dentro de pouco tempo nós poderemos realizar nas centenas de escolas estaduais processos eletivos que estão bem regulados. Por exemplo, não pode uma pessoa sem formação pedagógica disputar. Tem que ter vocação pedagógica, tem que ter licenciatura plena, ou ser um pedagogo, por educação é coisa série. Não adiata colocar um militante político que agrada a maior parte, porque educação é base para a produção do conhecimento científico. Mas educação em si, é também conhecimento científico, por isso para dirigir a escola, tem que ter qualificação para isso. É uma lei bastante avançada, é uma conquista da cidade e em breve, nós teremos com certeza o aumento da qualidade da educação pública por conta desse passo.

O Estado – Só a mudança no processo de escolha dos gestores escolares resolve o problema da qualidade da educação?

Edmilson Rodrigues – Só isso não resolve. Temos escolas caindo aos pedaços, com vazamentos, falta de água, problemas sanitários, falta de bibliotecas, obras inacabadas, falta de valorização dos profissionais da educação Enfim, são muitos elementos que somam para a qualidade da educação. Mas a democratização da escola é um elemento fundamental para melhorar a qualidade do ensino.