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Sesma e a sua triste dança das cadeiras

A calmaria imperava na tarde da última sexta-feira, 30, no sempre agitado Pronto-Socorro Municipal (PSM) do Guamá. Pouca gente na recepção, quase nenhuma movimentação em frente ao portão, até a chegada de uma ambulância trazendo uma idosa. No que sua acompanhante desce para tentar admiti-la no hospital, a senhora passa cerca de 20 minutos sozinha deitada em uma maca dentro do veículo, que está com as portas escancaradas. Nesse meio tempo, nenhum médico ou enfermeiro vai até ela para ao menos observá-la ou verificar se a paciente, aparentemente desacordada, precisa de algo. O motorista confirma sua vinda do Posto de Saúde da Marambaia “porque o caso dela era grave e lá eles não teriam como ajudá-la”, e em seguida uma médica sai, entra no carro e diz que eles devem seguir para o Hospital de Clínicas Gaspar Viana, do Governo do Estado. E assim a ambulância segue atrás de uma nova solução que o município não pôde dar.

Cenas como essa se repetem praticamente todos os dias da semana nos PSMs e postos de Saúde de Belém, e na última terça-feira, 27, a já adoentada Saúde Municipal foi acometida por mais um problema: Yuji Magalhães Ikuta, médico e segundo secretário municipal da Sesma em pouco menos de oito meses de gestão do prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), eleito no ano passado, anunciou que, por motivos pessoais, estava deixando o cargo. Seu antecessor, o também médico Joaquim Ramos, abdicou do posto em 4 de junho, após seis meses como titular da pasta.

A Prefeitura Municipal de Belém, em nota, lamentou a saída de mais um secretário e, até o final da semana, não havia revelado a identidade do terceiro escolhido para gerir uma das áreas mais críticas da administração municipal.

BUROCRACIA

Desde que assumiu, em 7 de junho, momento em que Ikuta elegeu a Atenção Primária e Urgência e Emergência como seus focos principais, foram 81 dias à frente da Sesma. Doutorando em Doenças Tropicais pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), por onde também se formou em Medicina, fez mestrado na Universidade de Campinas (Unicamp) com tema inserido nas estratégias do Programa Saúde da Família, e já exercia a coordenação do Departamento de Ações em Saúde (Daes) antes de ser secretário. Até os mais críticos o apontaram como uma escolha sábia para a posição. Saiu alegando motivos pessoais sem mais detalhes e não atendeu as ligações da reportagem do DIÁRIO na sexta, 30 para falar sobre o assunto.

Joaquim Ramos também não quis comentar a saída de Yuji, mas à época em que deixou a Sesma, admitiu que a burocracia atrapalhava sua atuação. “A burocracia da instituição prefeitura atravanca muito. É tudo muito demorado. (…) Estamos tratando com vidas, mas parece que é tudo uma coisa”, declarou em entrevista ao DIÁRIO publicada em 6 de junho, dois dias após seu pedido de demissão.

Para o Sindicato dos Médicos do Estado do Pará (Sindmepa), Yuji pode ter, além de motivação pessoal, entendimento semelhante ao de Joaquim no que pese a escolha pela demissão. “Uma coisa é o que ele diz, e eu não conversei com ele. Mas nós, do Sindicato, por experiência, podemos entender que ele, assim como o Joaquim e os oito secretários da gestão do prefeito Duciomar Costa (2004-2012), talvez não tenha encontrado uma forma de colocar em prática seu plano de gestão”, ventila o médico Wilson Machado, um dos membros da diretoria do Sindmepa.

“É uma frustração. Cheguei a encontrá-lo em um evento dias antes de ele anunciar a demissão e o ouvi falar de vários planos e projetos para a Secretaria, algo que me agradou muito”, analisa.

O deputado estadual psolista e ex-prefeito de Belém entre os anos de 1996 e 2004, então pelo PT, Edmilson Rodrigues, lembra que contou com quatro secretários da Saúde em seus oito anos de mandato. “Apenas um deles saiu pelo fato de a equipe não concordar com o ritmo de trabalho, à época eu queria a implantação imediata do Programa Família Saudável, e acharam que estava indo rápido demais. Fora isso, as outras trocas aconteceram por outras conveniências, orientações partidárias”, recorda.

“A Prefeitura de Belém tem à frente um prefeito capitalista, e vida não rima com lucro. Pôs na Sesma um profissional comprometido com a Saúde Pública, mas como o secretário de Saúde não tem autonomia financeira e nem política para determinar prioridades, ele acaba saindo para não se queimar. Vai ser uma repetição do que aconteceu durante o governo do Duciomar. A grande tristeza é que a principal vítima aqui é o povo”, afirma Edmilson.

Publicado no Diário do Pará, em 01 de setembro de 2013